Dica de música da semana (14 a 18/03 de 2011)

Dica 2 – Música do período do Romantismo

“Consegui! Consegui! Enfim encontrei a Alegria!”. Assim, cheio de alegria, Beethoven acolheu em seus aposentos o seu secretário. Imediatamente, sentou-se ao piano e dedilhou-lhe a descoberta: encontrara, enfim, a solução, buscada há anos, que permitira-lhe musicar os difíceis versos da An die Freude (Ode a Alegria) de Schiller. Depois de 32 anos de hesitações, de idas e vindas, de adiamentos, por fim deu por terminada a 9ª Sinfonia. Quando moço ainda em Bonn, Ludwig van Beethoven comoveu-se com o conteúdo do poema de Schiller, que havia lido em 1792 e que o impressionara para sempre com a maravilhosa exaltação à fraternidade humana.

Schiller compôs o poema para que um amigo seu o cantasse com seus companheiros nas lojas da irmandade. Schiller, em apenas 18 belíssimas estrofes, celebrava os valores do Iluminismo (o cosmopolitismo, a superação das desavenças nacionais, a pregação da tolerância, e a consciência de pertencer-se a um mundo só). Beethoven, na época um entusiasta republicano, embebido pelos ideais da Revolução Francesa de 1789, sentiu-se tentado em transformar o que lera em algo imortal.

Como tantos outros artistas e filósofos alemães do seu tempo, como Kant, Hölderin, Hegel, Fichte e Schelling, Beethoven inicialmente fascinara-se por Napoleão. Quando, porém, o general republicano coroou-se imperador em 1804, Beethoven desencantou-se. Num acesso de fúria, rasgou a dedicatória que lhe fizera na 3ª Sinfonia.

Esta aproximação com os poderosos da época tinha outra razão de ser, não decorrente apenas da sua decepção política. Beethoven foi o primeiro dos grandes músicos europeus a ter consciência da sua importância social (é bom lembrar que na geração anterior, o extraordinário Mozart, depois de ter encerrado a função de músico solista no palácio, fazia as refeições junto ao restante da criadagem). O sucesso artístico e a repercussão internacional das suas composições convenceu-o de que ele, Beethoven, também fazia parte de uma nobreza, a nobreza dos talentos, tão exaltada pela Revolução Francesa. O que Napoleão conseguira comandando o exército francês, ele alcançara com as sinfônicas e com a batuta de maestro.

“Eu também sou um rei”, respondeu ele certa vez cheio de si a um soberano alemão. Começou a frequentar os grandes e importantes ambientes como um nobre e não como um servidor, como Haydin e Mozart o fizeram antes dele.

Retirado para um lugarejo próximo a Viena chamado Heiligestadt, onde morava já há alguns anos (foi lá que, num momento de depressão, redigiu seu testamento em 1802), Beethoven concluiu a sua obra-prima em fevereiro de 1824. A 9ª Sinfonia revelou-se extraordinária. Dotara-a de uma força emotiva e heroica que só ele até então conseguira dar à música alemã. O público, desde a primeira audiência, ocorrida no Kärntnertor Theatre de Viena em 7 de maio de 1824, maravilhou-se. O passado, o tumulto revolucionário, aflora em vários momentos ao longo da execução, mas sua beleza deve-se ao seu carisma. É uma apologia aos tempos futuros, quando então seremos um mundo só.

Apesar da obra ter sido dedicada ao rei Frederico Guilherme III da Prússia, que como todos os monarcas da sua época era hostil aos ideais de liberdade, a obra-prima de Beethoven apresenta o paradoxo de ser entendida como um hino da emancipação do mundo europeu dos tempos feudais, liberto da tirania e das cargas da servidão imposta pelos nobres. A alegria, pois, que a 9ª Sinfonia exalta não se perdera num tempo remoto, numa Arcádia sem volta. Ao contrário, a alegria e a felicidade estão ao nosso alcance logo ali em frente, bastando que superemos as nossas estreitezas culturais e a mediocridade política que nos cerca.

~ por marceloliteratura em 18/03/2011.

3 Respostas to “Dica de música da semana (14 a 18/03 de 2011)”

  1. ♥ AMEI a música! ♥ Já salvei pra mim…linda mesmo =D

  2. Sublime é uma das palavras que mais tem faltado em meu pensamento ultimamente…tenho que ouvir mais essa música! kkkkk´s

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